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Pedagoga e ativista Ruth Cavalcante recebe título de Doutora Honoris Causa da UFC

Militante do movimento estudantil durante o período de ditadura militar no Brasil, a Profª Ruth Cavalcante foi impedida, em 1968, de concluir o curso de Pedagogia na Universidade Federal do Ceará (UFC), com base no Decreto 477, instituído pelo Ato Institucional nº 5 (AI-5). Aos 80 anos, a pedagoga retornou à UFC, na última quarta-feira (9), para receber o título de Doutora Honoris Causa, a mais importante láurea atribuída a personalidades com sólida atuação nas ciências, letras e artes, aprovada por unanimidade pelo Conselho Universitário (CONSUNI) da Instituição.

Imagem: entrega do título doutor honoris causa

Como parte dos eventos de celebração dos 70 anos da UFC, Ruth Cavalcante adentrou o auditório da Reitoria ao lado da Profª Bernadete Porto, pró-reitora de Extensão da UFC, e da filha Mariana Cavalcante, ao som instrumental da canção “Coração vagabundo”, de Caetano Veloso. O diploma e as vestes talares foram entregues à homenageada pelo reitor Custódio Almeida e pela vice-reitora Diana Azevedo.

“Aqui dou meu testemunho da violenta repressão que sofri quando fui expulsa desta mesma Universidade, que, numa inversão epistemológica, hoje me acolhe e me confere seu mais importante título”, declarou a homenageada, rememorando as duas prisões que sofreu durante a ditadura militar, ambas relacionas à sua atuação no movimento estudantil. “O crime a mim imputado foi o de exercer o ofício de educadora ensinando a ler criticamente o mundo, a pensar, sentir e agir para a construção de uma sociedade menos autoritária, menos discriminatória, mais justa e feliz, com direitos iguais para todos”, completou.

Imagem: título doutor honoris causa

Garra e destemor na luta em defesa da democracia foram a tônica dos discursos da noite. Relatos sobre feitos notáveis e vivências pessoais da pedagoga relembraram aos presentes – amigos, familiares, companheiros de ativismo e autoridades civis e universitárias – a trajetória de estudos, ações na área da educação, exílio, anistia e retorno ao Brasil, onde sistematizou a educação biocêntrica e leciona aulas de biodança desde 1986.

“Estamos acendendo as luzes da Universidade para que todos vejam com nitidez a importância desta Instituição para o Ceará e para o Brasil. E distinguir a Ruth Cavalcante com esse título é afirmar os valores da UFC como os mesmos valores que marcam a vida da nossa homenageada. A vida de Ruth sempre foi pautada pela defesa da liberdade: liberdade de expressão, democracia, emancipação das mulheres e dos marginalizados; a existência de Ruth sempre foi marcada pela defesa da vida”, discursou o reitor da UFC.

Veja outras imagens da solenidade no Flickr da UFC

O Prof. Ítalo Gurgel, docente aposentado da UFC, ressaltou a atuação de Ruth na educação básica, alfabetizando tanto “operários, donas de casa, trabalhadores do campo, que, através do rádio, aprendiam não apenas a ler, mas também a pensar”, bem como o trabalho pessoal que exerceu ainda criança, ao dar aulas “na cozinha, ensinando o ABC à velha babá Terta”.

Ao traçar a linha do tempo de Ruth, Ítalo Gurgel trouxe luz também ao momento presente, em que ela “reparte lições de reeducação afetiva e prega o convívio amoroso. Orienta, cuida, acende luzes. Continua nas salas de aula, nas lives, nos auditórios e grupos populares, numa espécie de atuação que transita entre o sonho e a luta”, que culminaram em um “natural reconhecimento com o prestigioso título de Doutora Honoris Causa de uma das maiores e mais bem avaliadas universidades do País”, salientou.

Imagem: auditório da UFC

HISTÓRICO – Nascida na cidade de Pedra Branca, no Ceará, concluiu o curso Normal no colégio Santa Izabel. Atuou no Movimento de Educação de Base (MEB) como coordenadora e professora-locutora de 1964 a 1968. Estudou Pedagogia na UFC de 1964 a 1968, quando foi impossibilitada de concluir o curso durante a ditadura militar, com base no Decreto 477, instituído pelo AI-5.

Em 1969, ficou presa por quatro meses, até conseguir fugir da prisão. Viveu clandestinamente por quatro anos, até obter asilo político no Chile. Após o golpe liderado por Augusto Pinochet naquele país, exilou-se na Alemanha, onde viveu durante seis anos e formou-se na Escola de Pedagogia Social de Colônia.

Após a anistia, retornou ao Brasil em 1979. Passou, então, a coordenar cursos de alfabetização de adultos, na periferia de Fortaleza e interior do Estado. Participou igualmente do programa Ação Voluntária do Banco do Nordeste.

Fundou, em 1981, o Centro de Desenvolvimento Humano (CDH), do qual foi diretora pedagógica, e, em 1980, a Escolinha Raio de Sol, incluindo alunos com necessidades especiais. Em 1986, começou a sistematizar a educação biocêntrica e concluiu as pós-graduações em Educação Biocêntrica e em Psicologia Transpessoal.

Em 2001, foi agraciada, pela Câmara Municipal de Fortaleza, com a Medalha Paulo Freire, destinada a educadores que deram significativa contribuição à educação do município. Em 2011, recebeu o diploma Mulher-Cidadã Berta Lutz, outorgado pelo Senado Federal, em reconhecimento à relevante contribuição na defesa dos direitos da mulher.

Atualmente, presta consultoria na área de processos humanos em empresas, escolas, comunidades, organizações e movimentos sociais. É facilitadora didata em Biodança e diretora da Escola de Biodança do Ceará desde 1986, além de coordenadora e professora do curso de Pós-Graduação em Educação Biocêntrica, desde 1999, em parceria com a Universidade Estadual do Ceará (UECE), Universidade Estadual do Vale do Acaraú (UVA) e Universidade Federal do Piauí (UFPI).

Fonte: Cerimonial da UFC – e-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.; fone: (85) 3366.7313

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