Pesquisador da UFC que criou tecnologia de comunicação para pessoas com dificuldade na fala e nos movimentos ganha prêmio internacional
- Segunda, 14 Outubro 2024 19:30
- Escrito por UFC Informa
Em 2018, o professor de Física Paulo Victor Loureiro dava aula em uma das salas do programa de Atendimento Educacional Especializado (AEE), da Secretaria de Educação do Ceará, quando teve uma ideia que mudaria a vida de muita gente. Na ocasião, ele acompanhava um estudante com paralisia cerebral não-verbal (quer dizer, sem capacidade de falar), e começou a pensar em maneiras de facilitar a comunicação daquele jovem dentro do processo de ensino-aprendizagem.
Seis anos depois, ele comemora o sucesso do BlinkTalk, um sistema neurocomputacional que permite a comunicação de pessoas com limitações na fala e nos movimentos, causadas por paralisia cerebral e transtornos do espectro autista por exemplo.
O projeto foi desenvolvido durante seu doutorado na Faculdade de Educação (FACED) da Universidade Federal do Ceará (UFC), sob orientação da professora Fátima Maria Nobre Lopes, a partir de investigações realizadas pelo autor em dois grupos de estudo e pesquisa: Teoria Crítica, Filosofia e Educação (coordenado pelo professor Adauto Lopes da Silva Filho) e Ontologia do Ser Social, Ética e Formação Humana (coordenado pela professora Fátima Maria Nobre).
Em setembro deste ano, a iniciativa foi anunciada vencedora do Prêmio de Inovação em Engenharia Biomédica para o SUS e América Latina 2024, organizado pela Sociedade Brasileira de Engenharia Biomédica (SBEB) com a empresa Boston Scientific, na categoria Startups. A cerimônia de entrega será em dezembro, em São Paulo.
Elaborado a partir de conhecimentos e tecnologias das áreas de Neurociência e Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC), o BlinkTalk utiliza-se de uma interface cérebro-computador não-invasiva: com a ajuda de um aparelho portátil de eletroencefalograma acoplado à cabeça, ela permite ao usuário guiar cursores de teclados virtuais por meio ondas cerebrais, com o piscar de olhos.
Além de pessoas com paralisia cerebral e autistas, durante a pandemia de covid-19 o sistema também facilitou a comunicação de pacientes com casos graves da doença, que faziam uso de uso de respiradores, ventilação mecânica, entubados ou traqueostomizados.
O COMEÇO – Ainda naquela sala de AEE, em 2018, Paulo Victor recorreu à sua formação em Física, também pela UFC, e foi buscar na robótica uma solução que ajudasse o estudante – apesar da paralisia, o rapaz tinha destaque até em Olimpíadas de Matemática porque conseguia fazer cálculos de cabeça, mas enfrentava dificuldades com questões dissertativas.
Porém, além da fala comprometida, havia também a pouca mobilidade do estudante, que inviabilizava o uso de tecnologias de captura de movimentos ou sensores de toque. Era necessária uma opção que utilizasse como partida o único movimento executado pelo paciente sem dificuldade: o piscar de olhos.
“Tive que pesquisar uma tecnologia para que, ao piscar, ele pudesse escolher letra, palavra ou símbolo gráfico”, descreve o doutorando. Os primeiros testes práticos incluíram a utilização de código morse, fazendo uma lâmpada acender e apagar para formar as letras. Embora bem-sucedido, o método era demorado e cansava o usuário, por exigir várias combinações.
Com a evolução do sistema, um único comando passou a ser suficiente para escolher uma letra; depois, foi incorporado um algoritmo de previsão de palavras (assim como nos telefones celulares) e um conjunto de emojis para facilitar a expressão de sentimentos ou necessidades.
O avanço também ocorreu em termos de custo: no início da pesquisa, o aparelho de encefalograma que viabilizava a tecnologia custava R$ 2 mil; ao longo do doutorado, Paulo Victor desenvolveu um protótipo de R$ 200, com código do software elaborado a partir de uma licença gratuita.
“Fui estudando outros recursos de softwares livres, de tecnologias abertas, e consegui fazer o mesmo sistema de interface cérebro-máquina utilizando tecnologias abertas para o eletroencefalograma portátil”, detalha Paulo. Hoje a produção do aparelho custa, em média, R$ 500.
PRÓXIMA FASE – Agora, com o reconhecimento do prêmio, o doutorando – que também é fundador da startup BiotechTEA, voltada ao desenvolvimento de soluções em tecnologias assistivas para a neurorreabilitação e comunicação alternativa – espera que o método seja integrado ao Sistema Único de Saúde (SUS). Na cerimônia de entrega do prêmio, ele pretende conversar com membros do Ministério da Saúde e outros investidores da área.
O desafio será captar recursos para replicar os protótipos do BlinkTalk. Na educação, um dos benefícios verificados foi a realização mais eficiente de atividades escolares e criação mais rápida de textos. No campo do trabalho, pessoas que utilizaram o sistema conseguiram se expressar com mais agilidade.
Já na área da saúde os benefícios previstos são ainda mais impactantes, com pacientes podendo comunicar mais facilmente sintomas, sensações e necessidades a seus familiares e equipes médicas. Em todas as searas, o BlinkTalk deve-se somar a outros esforços no sentido de conceder maior autonomia aos usuários, contribuindo para sua inclusão social.
Fonte: Secretaria de Comunicação e Marketing da UFC – e-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.