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Pesquisas da UFC revelam que Fortaleza perdeu 83,7% de sua cobertura vegetal nativa e identificam 60 áreas vulneráveis ao desmatamento

Duas pesquisas realizadas na Universidade Federal do Ceará (UFC) sobre as áreas verdes na cidade de Fortaleza revelam que há apenas 16% de ecossistemas remanescentes na cidade e identificam 60 áreas com vegetação vulneráveis ao desmatamento.

Imagem: A imagem é um mapa das Unidades de Conservação em Fortaleza, Ceará, que destaca diferentes estados de conservação e graus de degradação. O mapa está colorido, com a legenda indicando áreas urbanas, áreas permeáveis degradadas e coberturas vegetais com níveis de densidade (NDVI). As áreas em verde indicam locais com maior cobertura vegetal, enquanto áreas em vermelho mostram locais urbanos ou degradados. O limite municipal de Fortaleza e a região metropolitana estão demarcados, assim como corpos hídricos e a linha costeira do Oceano Atlântico ao leste.

Mapeamento realizado por Laymara Xavier Sampaio, no mestrado do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA) da UFC, identificou as áreas verdes remanescentes, que são áreas com vegetação nativa que sobreviveu ao crescimento da cidade, formando fragmentos de vegetação que compõem parte do patrimônio ecológico de Fortaleza

De acordo com os resultados, Fortaleza possui 6.098,45 hectares de áreas verdes naturais ou seminaturais, dos quais 2.185,83 não estão sob proteção do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000 – SNUC). O estudo verificou ainda que parte considerável da área que está dentro dos limites das unidades de conservação está atualmente desmatada. 

Laymara Xavier Sampaio desenvolveu dissertação de mestrado no PRODEMA/UFC orientada pelo professor Marcelo Freire Moro, do Instituto de Ciências do Mar (LABOMAR/UFC), já publicada recentemente em artigo na Revista Brasileira de Geografia, do IBGE. Também assinam o artigo Marcelo Moro, Maria Elisa Zanella, Maria Ligia Farias Costa, Liana Rodrigues Queiroz e Manuella Maciel Gomes.

Já a estudante Maria Lígia Farias Costa desenvolveu trabalho de conclusão do curso de Ciências Ambientais na UFC e identificou quanto sobrou de cada tipo de ecossistema na cidade, revelando que temos apenas 16% de ecossistemas remanescentes em Fortaleza. Esse estudo foi submetido para publicação em revista. 

De acordo com o professor e orientador das duas pesquisas Marcelo Moro, Fortaleza é o 4º município mais populoso do Brasil, mas com poucas áreas verdes remanescentes. “As áreas verdes são modernamente compreendidas como parte fundamental da malha urbana, fazendo parte de uma infraestrutura ambiental que oferece serviços ecossistêmicos importantes, como melhoria da qualidade do ar, redução de inundações, melhorias estéticas das cidades, redução das temperaturas extremas, com relevante melhoria do microclima urbano e redução das ilhas de calor na cidade, além de darem suporte à manutenção e conservação da biodiversidade nativa nas cidades”, explica.

ÁREAS PROTEGIDASFortaleza tem oficialmente 14 unidades de conservação (UC) que se dividem em: Áreas de Proteção Ambiental (APA), com total de 1.886,09 hectares; Áreas de Relevante Interesse Ecológico (ARIE), representando 133,35 hectares; e Parque Estadual ou Natural Municipal, com 1.897,18 hectares nos limites do município. Além disso, há 2.053,98 hectares dentro dos limites de APP, conforme a legislação federal, mas que estão fora dos limites de UC. 

Foram incluídos no estudo de Laymara Xavier Sampaio: 1Parque Estadual do Cocó, 2 Parque Natural Municipal da Sabiaguaba, 3 ARIE da Floresta do Curió, 4 ARIE das Dunas do Cocó, 5 ARIE da Matinha do Pici, 6 ARIE do Cambeba, 7 ARIE Prof. Abreu Mattos, 8 APA do Rio Pacoti, 9 APA do Rio Maranguapinho, 10 APA da Lagoa da Precabura, 11 APA do Rio Ceará e 12 APA da Lagoa da Maraponga.

De acordo com a pesquisa, a primeira na lista de degradação é a APA do Rio Maranguapinho, que tem 62,5% da sua extensão já urbanizada, menos de um décimo (8,5%) com cobertura vegetal conservada e 28,9% restantes de área já com cobertura vegetal desmatada. “É importante destacar que as quatro UC mais desmatadas em Fortaleza são de categoria APA, mostrando a fragilidade que essa categoria tem na proteção aos ecossistemas”, afirma Laymara no estudo.

A pesquisa identificou que, ao redor do Parque Estadual do Cocó (PEC), considerado a maior e mais importante unidade de conservação na cidade de Fortaleza, há áreas vegetadas que permaneceram sem nenhuma proteção legal. A partir disso, o estudo propõe a inclusão dessas áreas vegetadas como adições ao parque, de modo a “ampliar a cobertura de áreas verdes protegidas dentro de Fortaleza e garantir a perpetuidade dessas áreas como ecossistemas protegidos na cidade”. 

A pesquisa indica ainda que há fragmentos remanescentes de vegetação que não estão legalmente protegidos pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação. São no total 2.184,4 hectares de áreas verdes remanescentes que estão vulneráveis legalmente e que futuramente poderão ser desmatadas. “Propomos aqui 60 áreas prioritárias para conservação de ecossistemas terrestres no município, que estão divididas entre o potencial para enquadramento como área protegida de uso sustentável (incluindo parque urbano) ou de preservação permanente”, conclui no estudo. 

Para identificar as áreas urbanizadas, foi realizada classificação de uso e cobertura da terra, recorrendo a imagens do satélite capturadas em 22 de junho de 2020. Para avaliar a configuração de áreas verdes remanescentes dentro das unidades de conservação e quanto sobrou de áreas verdes não protegidas dentro do município, foram utilizadas imagens de satélite e bases de dados geográficas oficiais do município e do Governo do Estado do Ceará.

De acordo com o professor Marcelo Moro, essa pesquisa revelou dados que fornecem aos gestores públicos e à sociedade fortalezense um retrato detalhado sobre as áreas verdes naturais remanescentes na cidade. “Podemos dizer que estamos em um momento crítico, onde a vasta maioria do município já foi desmatado e já perdemos muito do patrimônio ambiental da cidade. Infelizmente a história não foi generosa com a biodiversidade e os ecossistemas de nossa cidade. Espero que possamos reavaliar os rumos de nossas ações e criar uma cidade mais verde para que, em algumas décadas, entreguemos aos nossos filhos uma cidade mais ecológica e viva do que temos atualmente”, afirma.

Fonte: Prof. Marcelo Moro, do Instituto de Ciências do Mar (LABOMAR)/UFC – e-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo. 

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