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Agência UFC: Lixo plástico descartado no continente africano encalha no litoral nordestino

Encontrar lixo durante uma caminhada à beira-mar em praias brasileiras não é raro. Entretanto, um banhista mais curioso pode ser surpreendido ao constatar uma tampa de refrigerante Festa ou água mineral Swissta, produtos não comercializados no país. Uma análise feita por cientistas da Universidade Federal do Ceará (UFC) em resíduos plásticos encalhados na costa cearense em 2022 constatou que mais de 78% dos itens tinham origem no continente africano, trazidos por correntes transcontinentais.

Imagem: Tampas de garrafa representaram 80% do material recolhido, seguidas por embalagens de cosméticos e potes de alimento, que somaram 16% (Foto: Guilherme Silva/UFC)

Em 2022, a equipe coletou resíduos plásticos nas praias de Jericoacoara, Praia do Futuro e Porto das Dunas, somando mais de mil itens, com um peso total de 9,7 quilos, que foram submetidos a uma auditoria de marca. O resultado confirmou que 78,5% do material recolhido era oriundo de países da África, 15,7% do Brasil e 5,8% de outras nações.

Para determinar a trajetória desses resíduos, os pesquisadores utilizaram o software de modelagem OpenDrift, que simula as rotas de objetos transportados pelas correntes oceânicas. As simulações indicaram que os itens provavelmente tinham origem nas águas do rio Congo e, através das correntes do Atlântico, chegaram à costa brasileira.

De acordo com a pesquisa, os estados que mais recebem plásticos do Congo são os localizados entre Alagoas e Pará, o que inclui também Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí e Maranhão.

A presença desse plástico estrangeiro nas praias brasileiras causa uma série de impactos ambientais e sociais. Animais marinhos, como tartarugas, peixes e aves, frequentemente confundem os plásticos com alimentos, levando à ingestão de partículas que podem causar sufocamento ou envenenamento.

Imagem: Equipe do Labomar/UFC recolheu para análise, em 2022, 1.062 itens plásticos na Praia do Futuro, em Fortaleza; no Porto das Dunas, em Aquiraz; e em Jericoacoara, em Jijoca (Foto: Guilherme Silva/UFC)

Além disso, o plástico pode liberar substâncias tóxicas, prejudicando a qualidade da água e afetando os ecossistemas costeiros. Para as comunidades que dependem do turismo e da pesca, o acúmulo de lixo traz prejuízos econômicos.

Os pesquisadores ressaltam a importância de tratar a poluição plástica como um problema global que exige colaboração internacional e políticas locais de mitigação, como incentivo à reciclagem e redução de plásticos descartáveis. “Mesmo que a poluição tenha origem em outros países, há estratégias locais eficazes que podem ajudar a reduzir seus impactos”, argumenta Tommaso Giarrizzo, professor e pesquisador do Instituto de Ciências do Mar (LABOMAR) da UFC responsável pelo projeto.

Para ele, uma limitação significativa no Brasil é a ausência de programas regulares e padronizados para monitoramento do plástico nas praias. Os próximos passos da pesquisa buscam esclarecer se esse fenômeno de transporte de lixo é sazonal e envolve colaboração com outros estados para estabelecer um protocolo mais abrangente de monitoramento da poluição plástica na costa nordestina.

O assunto é tema de reportagem da Agência UFC, veículo de divulgação científica da Universidade.

Fonte: Tommaso Giarrizzo, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências Marinhas Tropicais do LABOMAR – e-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

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