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Resilientes como a mata do sertão, concludentes do Campus de Crateús celebram a conquista do diploma

Os caminhos que levam a Crateús se encontram esbranquiçados. É a caatinga, verbete que significa “mata branca”, em referência à cor dos troncos quando perdem a folhagem. Mas quem conhece o sertão sabe: basta chover um tiquinho para o mato voltar a se colorir de um verde cor de vida. A caatinga, talvez, seja uma das metáforas para a resiliência, ou para a superação. Mas não é a única. Na noite de quinta-feira (21), novas metáforas para o ato de resistir foram tituladas e passaram a levar o nome de cada um dos 30 alunos que colaram grau no campus da Universidade Federal do Ceará (UFC) nesse município sertanejo. Eles são, agora, profissionais com o DNA da UFC.

“Se eu pudesse definir nossa caminhada em uma palavra, essa palavra seria superação”, declarou, em seu discurso, Hillary Silvério de Azevedo, representante discente na cerimônia. “Acredito que, para muitos, a sensação de entrar na UFC foi, de longe, o menor obstáculo, pois permanecer na Universidade não foi fácil. Enfrentamos desafios que, muitas vezes, pareciam ser maiores do que nós. E cada etapa foi uma batalha contra o medo, o cansaço, a sensação de que, talvez, fosse melhor desistir”, continuou a formanda.

Imagem: Hillary Silvério, representante discente da colação, refletiu sobre superação e resistência (Foto: Viktor Braga/UFC)

Mas não desistiram, nenhum dos 30. Hillary reforça que o que levou cada concludente à tão esperada cerimônia de formatura não foi apenas o conhecimento adquirido nas salas de aulas ou nos livros: “Foi algo muito mais profundo: a persistência. Esse diploma que estamos recebendo representa muito mais que o resultado dos nossos estudos. Ele representa cada sacrifício, cada noite mal dormida, cada renúncia e, principalmente, cada momento que escolhemos continuar, mesmo quando era mais fácil parar. Hoje, podemos olhar para trás com orgulho”, celebrou.

Esse sentimento de orgulho também ganhou espaço no discurso do representante docente da cerimônia, o Prof. Francisco Diones de Oliveira Silva. “Iniciei nesta casa em 2019, como professor de Geologia no campus, e observei a vontade e o orgulho que muitos alunos sentiam ao fazer parte da Universidade Federal do Ceará, próximo ao seu lar”, contou. Toda essa gana, contudo, também vinha acompanhada da preocupação com os obstáculos do caminho. Mas esses, ao longo dos anos, foram sendo superados.

Imagem: O Prof. Francisco Diones lembrou a formação não apenas técnica, mas também humana, ofertada na Universidade (Foto: Viktor Braga/UFC)

E foram anos inesquecíveis, para cada um desses 30: aulas, discussões, projetos, viagens de campo, visitas técnicas, participação em eventos… e, junto a tudo isso, diversas amizades, construídas dentro e fora do campus, as quais ajudaram a enfrentar os desafios da vida acadêmica. “Essas experiências foram e são cruciais para nossa formação, que não é apenas técnica, mas também humana”, destacou o professor.

Na noite dessa quinta-feira, colaram grau alunos dos cursos de Ciência da Computação, Engenharia Ambiental e Sanitária, Engenharia Civil, Engenharia de Minas e Sistemas de Informação.

“Os cursos de engenharias e TI, como sabemos, são profissões que exigem muito mais do que apenas conhecimento técnico. É preciso ter paixão, criatividade e, acima de tudo, persistência. E foi exatamente isso que vi em cada um de vocês”, destacou o Prof. Diones, que concluiu sua fala com uma reflexão inspirada em seu campo de atuação: “Assim como as rochas que estudamos, vocês foram moldados pela experiência e pelo tempo. E, assim como as rochas mais resistentes, vocês estão preparados para enfrentar qualquer desafio”.

CELEBRAÇÃO DE HISTÓRIAS DE VIDA – O reitor Custódio Almeida reforçou, em seu discurso, que o motivo principal da festa de colação de grau é a celebração das histórias de vida dos concludentes: “Estamos reconhecendo as suas vitórias pessoais e familiares; são muitas histórias de determinação, dedicação, resistência, resiliência, de valentia. Apesar das dificuldades enfrentadas, vocês não foram barrados nos ciclos anteriores da vida escolar. Superaram os desafios econômicos, sociais, geográficos, seguiram adiante e chegaram até aqui”.

Imagem: O reitor da UFC, Prof. Custódio Almeida, participou da cerimônia em Crateús (Foto: Viktor Braga)

A celebração, destacou, é das conquistas pessoais e coletivas simbolizadas nos diplomas concedidos. E é, também, uma celebração da própria Universidade. “Celebrar a Universidade é o mesmo que celebrar a liberdade e tudo que se associa a ela: a autonomia, a visão de conjunto, a maioridade intelectual (capacidade para compreender, interpretar e tomar decisões racionais)”, reforçou o reitor, salientando que essa liberdade é um projeto político e coletivo. “Sim, ninguém jamais saberá o que é liberdade sozinho, precisamos estar na sociedade e com as outras pessoas para sermos livres”, completou.

Custódio Almeida enfatizou a ideia de coletividade e da importância desse compromisso para cada um dos novos profissionais formados pela UFC, inclusive na defesa da própria Universidade, que, alertou, é reiteradamente ameaçada pela ignorância. “Busquem sempre, nas atividades do trabalho cotidiano, a visão de conjunto que faz ver e compreender as injustiças e gera a energia que acende a luz da justiça, da beleza e do bem”, defendeu.

HISTÓRIAS QUE INSPIRAM – Desistir foi um verbo que vez por outra quis atropelar o trajeto de Mônica Moreira, durante o período em que cursou Engenharia de Minas no Campus de Crateús. O pai a abandonou quando tinha cinco anos de idade, e a mãe, como dona de casa e autônoma, não pôde oferecer o melhor dos mundos para a filha, mas nunca permitiu que a ela faltasse incentivo.

Não à toa, Mônica dedicou a ela o diploma que, com lágrimas nos olhos, celebrava na noite dessa quinta-feira. “Se hoje eu sou engenheira, é por conta da minha mãe!”

Imagem: Mônica Moreira graduou-se em Engenharia de Minas no Campus de Crateús (Foto: Viktor Braga/UFC)

Vinda de Nova Russas, foi por meio do Auxílio-Moradia que Mônica conseguiu permanecer no curso: “Um dos pilares para eu continuar no projeto de ensino superior foi esse auxílio. Consegui no terceiro mês de curso e o mantive até me formar. Isso mostra a importância dos programas de permanência da UFC”, reconhece ela, que lembra que antes de entrar na UFC sequer imaginava que tal sonho seria possível. “A gente, que é de interior distante, não tem essa realidade de ensino superior presente na nossa vida. Foi só recentemente, com a descentralização da Universidade, que a gente começou a acreditar.”

Mônica faz questão de afirmar que a Universidade já mudou não só a sua vida, mas a de toda sua família. “Agora, vou sustentar a minha mãe e dar suporte financeiro para o meu irmão, que tem o sonho de se tornar policial. A UFC transformou as nossas vidas e as de todas as pessoas que conheci aqui. Eu quero agora servir de exemplo para meus amigos de Novas Russas, quero prová-los que esse sonho é possível.”

Imagem: Francisco Antônio é o segundo da família a se formar e ter um diploma de ensino superior (Foto: Viktor Braga/UFC)

Quem também transformou o sonho em realidade foi Francisco Antônio de Sousa Silva, que se formou em Sistemas de Informação. Natural de Ipueiras, filho de uma família simples com 9 irmãos, ele perdeu a mãe ainda em 2012 e teve seu sustento garantido pelo pai, gari, e pelos irmãos mais velhos, que sempre ajudaram. “A minha família sempre me apoiou. Tanto que sou o segundo a se formar, e tenho um outro que está cursando a faculdade”, conta.

Agora, ele é analista de monitoramento em uma empresa de São Paulo e já consegue retribuir o apoio da família. “Hoje é o fim de um ciclo e o início de novos desafios. A UFC é um marco na minha vida, estou muito feliz e toda a minha família veio aqui comemorar comigo.”

REPRESENTATIVIDADE – Representatividade importa, e isso Iasmin Saba pode comprovar. Ela é a primeira mulher a se formar em Ciência da Computação no Campus de Crateús e viveu na pele os desafios de abrir esse caminho. “Eu fico triste por não ter tido outra mulher antes de mim. Mas fico feliz por estar ocupando este lugar e espero ser referência para outras meninas”, revela.

Iasmin contou ter sentido falta de uma referência feminina no curso, apesar de afirmar ter sido muito bem tratada por toda a turma. “Não foi uma experiência ruim, mas tem essa pressão de ter que ser boa por ser a única mulher, e isso pesa”, relembra.

Imagem: Iasmin Saba, que não tinha certeza sobre a profissão, acabou "se encontrando" na área de Ciência da Computação (Foto: Viktor Braga/UFC)

Ciência da Computação não era seu sonho, mas tecnologia da informação era a área que tinha perto de sua cidade, Independência, e resolveu arriscar. Muitas vezes, pensou em desistir. Mas entendeu que persistir era um verbo que fazia mais sentido. “É um curso muito difícil. Mas, depois, chegou uma professora mulher aqui, e ela me serviu de inspiração. Persisti e, quando eu comecei a estagiar, passei a gostar da área. Agora, eu já me encontrei”, celebra ela, que já se diz ansiosa pelos novos ciclos profissionais.

O ciclo de colações de grau referente ao período 2024.1 retorna no dia 28 de novembro, com novas histórias de superação que surgem com a primeira cerimônia de formatura do Campus de Itapajé.

Fonte: Secretaria de Comunicação e Marketing (UFC Informa) – e-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

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