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Quarta, 02 Abril 2025 14:16

Escrito por UFC Informa

Não há dúvidas de que concluir um curso de graduação requer um grande esforço pessoal. Afinal, são vários anos de deslocamentos, aulas, projetos e atividades das mais diversas. Aliás, o calor impiedoso sentido pela multidão que lotou a Concha Acústica da Universidade Federal do Ceará (UFC), na terça-feira (1º), parecia exigir as últimas gotas de suor dos 400 concludentes presentes na primeira noite do ciclo de colação de grau referente ao período 2024.2. Contudo, ainda que se orgulhe de sua trajetória individual (e tem de se orgulhar mesmo), quem termina essa fase na UFC sabe bem que está realizando um sonho que foi sonhado junto. Pois o senso de coletividade e de humanidade talvez seja o maior aprendizado que uma universidade possa proporcionar a alguém.

Mas alguns já trazem essa característica de antes. Como Brenda Sousa, concludente de Enfermagem. Há muitos anos ela faz parte da Cruz Vermelha, organização humanitária que presta assistência a vítimas de conflitos armados e desastres naturais. Na reta final do curso, já no período do internato, ela precisou fazer uma pausa nas atividades acadêmicas, pois foi convocada para ir ao Rio Grande do Sul ajudar no socorro às vítimas das enchentes que devastaram parte do estado em 2024, causando cerca de 200 mortes e deixando milhares de pessoas desabrigadas.

“Não sei comparar isso com nada que eu tenha vivido, tanto em termos de retorno positivo como de algo impactante. Eu peguei o início, onde as pessoas estavam realmente sofrendo com as enchentes, e peguei o pós, quando as pessoas voltavam para as cidades e viam o que não existia mais. Foi muito puxado. Tivemos que cuidar da saúde física e também mental das pessoas”, relata Brenda. Antes, em 2019, ela já havia participado também no apoio às vítimas do desabamento do edifício Andrea, em Fortaleza, que resultou na morte de nove pessoas e deixou várias outras feridas.

Agora formada, ela diz que essas experiências, aliadas a tudo o que se vive durante a graduação, colocam novas responsabilidades a todos que puderam finalizar esse ciclo. “Por sabermos tudo o que fazemos e o que o nosso conhecimento pode levar à humanidade, acho que nossa obrigação é não se sentir superior, mas sim se desdobrar e ter humildade para servir ao mundo e às pessoas que um dia vão precisar da gente, independentemente do curso. Principalmente na área da saúde, nós, que tivemos a oportunidade de chegar até aqui, temos que olhar para o outro com um olhar diferente, de misericórdia e de amor”, ressalta.

CONSCIÊNCIA – Jefferson Santos, concludente de Publicidade e Propaganda, também parece ter entendido o real sentido do que é ser universitário. Participou de várias atividades, foi bolsista de diferentes projetos, mergulhou na convivência com as diferenças e desenvolveu sua consciência enquanto ser no mundo. Além disso, já foi aprovado para iniciar o mestrado em Literatura.

“Ao mesmo tempo que vejo algo muito pessoal, no sentido de que sou publicitário após quatro anos, também vejo que sou cidadão. Tenho consciência do meu lugar dentro do sistema, do país e da cidade em que eu vivo, e também consciência de classe. [...] Inicialmente tem um processo de autodescoberta, no meu caso, enquanto jovem LGBT negro, e também a convivência com pessoas diferentes. Sinto que passa por esse local de consciência cidadã, de que estou aqui como indivíduo, mas também como coletivo. Quando eu me formo, existem outras pessoas aqui. Somos muitos em um só”, compartilha.

A beleza dessa consciência um dia foi cantada por Gonzaguinha. Em “Caminhos do coração”, ele diz: “E é tão bonito quando a gente entende que a gente é tanta gente onde quer que a gente vá / E é tão bonito quando a gente sente que nunca está sozinho por mais que pense estar”.

Veja outras imagens da solenidade no Flickr da UFC

FORÇA DA AMIZADE – A geração que está se formando nesse ciclo iniciou a graduação ainda no período da pandemia de covid-19, o que impôs uma série de dificuldades para o ensino/aprendizagem, limitou experiências e gerou inúmeras dúvidas na cabeça dos estudantes. Perguntada sobre o que a fez seguir no curso apesar dessas complicações, Rayssa Rocha, concludente de Educação Física, responde sem titubear:

“Os meus amigos. Os amigos que eu fiz durante a graduação. Cada um incentivou um pouquinho e, quando alguém estava sem força e queria desistir, suprimir alguma cadeira ou abandonar o curso, a gente disse que a gente ia conseguir, que um seria apoio para o outro. Isso fez a gente chegar até aqui”, reconhece, esbanjando alegria ao se formar junto com quatro amigos que estão entre os mais próximos.

VÍNCULOS – Em seu discurso, a oradora que representou os formandos na solenidade, Wilyane Ramos, do curso de Teatro, relembrou a difícil jornada ao longo dos últimos anos e fez agradecimentos especiais a familiares, professores e, claro, aos amigos. Agradeceu a eles até mesmo pelos desentendimentos, pois esses, segundo ela, foram responsáveis pelo amadurecimento da turma.

“Obrigada por me mostrarem, mais de uma vez, que a fraternidade pode ser uma das bases da construção do saber coletivo e de um mundo mais próspero. Obrigada por me mostrarem que mesmo diante de tamanha inferioridade atribuída ao nosso curso, dentro e fora da Universidade, nós temos o nosso valor, nós temos o nosso espaço, nós somos resistência e nós iremos continuar lutando para que a sociedade se torne um lugar melhor. Os vínculos criados ao longo do percurso formativo serão recordados para sempre. Afinal, o que seria de nós sem nossos amigos que fizemos ao longo de todos esses anos?”, perguntou-se, sabedora de que amizade é coisa séria.

A oradora docente, professora Thyciana Rodrigues Ribeiro, do curso de Odontologia, também salientou a importância das pessoas que ajudaram os formandos ao longo do caminho. “Não podemos deixar de reconhecer que essa conquista não foi solitária. Ela foi possível graças às pessoas que os apoiaram durante essa jornada: pais, mães, avós, tios, amigos, colegas de curso, professores e tantos outros que acreditaram no potencial de cada um de vocês. Que esta noite seja também uma homenagem a todos aqueles que os incentivaram e ajudaram a tornar este sonho uma realidade.”

PÚBLICOS E COLETIVOS – Por fim, após conferir grau aos concludentes, o reitor Custódio Almeida lembrou que cada curso de graduação é atravessado por um projeto de conquista de liberdade e de humanidade, algo que necessita ser cultivado e atualizado sempre na relação, por se tratar de um projeto político e coletivo.

“Ninguém jamais saberá o que é liberdade sozinho. Precisamos estar no mundo e com os outros para sermos livres. Nunca seríamos humanos sozinhos. Nunca seríamos felizes sozinhos; somente sendo públicos e coletivos, experimentando a diferença e a pluralidade na convivência com os outros, poderemos nos encontrar e nos reconhecer como indivíduos e como sujeitos”, enfatizou.

Colaram grau na primeira noite do ciclo de colações concludentes do curso de Fisioterapia da Faculdade de Medicina (FAMED), da Faculdade de Farmácia, Odontologia e Enfermagem (FFOE), do Instituto de Cultura e Arte (ICA), Instituto de Educação Física e Esportes (IEFES), Instituto UFC Virtual (IUVI), Instituto de Ciências do Mar (LABOMAR) e Instituto de Arquitetura e Urbanismo e Design (IAUD).

O ciclo segue nesta quarta-feira (2), na Concha Acústica, com a colação dos concludentes dos cursos ofertados pelo Centro de Ciências (CC), Centro de Tecnologia (CT) e Centro de Ciências Agrárias (CCA).

Fonte: Secretaria de Comunicação e Marketing (UFC Informa) – email: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.