Procurar no portal

UFC realiza digitalização da gruta de Ubajara (CE); objetivo é construir passeio virtual e banco de dados

Passear por um ambiente mesmo estando muito longe dele. Com o aprimoramento das tecnologias de realidade virtual, essa possibilidade tem sido cada vez mais comum, sobretudo em áreas como arquitetura, turismo, museologia e educação. Na Universidade Federal do Ceará (UFC), a mais recente iniciativa a utilizar essas tecnologias é o projeto de digitalização da Gruta de Ubajara, realizado pelo Instituto de Arquitetura e Urbanismo e Design (IAUD), como parte do programa Cientista Chefe da Cultura. 

Localizada no município de Ubajara, na  Serra da Ibiapaba, a gruta é o atrativo mais famoso do Parque Nacional de Ubajara. Possui 1.120 metros de extensão já mapeados, dos quais 450 metros estão abertos à visitação, com um desnível de 35 metros de profundidade.

Imagem: Foto de um grupo de 13 pessoas posando ao ar livre em frente a uma placa que diz “Bem-vindos ao Parque Nacional de Ubajara”. O grupo está dividido em duas fileiras: a fileira de trás está em pé e a da frente está agachada. Ao fundo, há vegetação densa, com árvores, plantas tropicais e flores roxas. À direita, vê-se uma estrutura de madeira que parece um pequeno abrigo. O ambiente é verde e natural, transmitindo a sensação de floresta. As pessoas estão sorrindo e vestem roupas casuais, algumas com camisetas do parque.

A digitalização está sendo realizada no trajeto principal da gruta, que tem cerca de 1,2 quilômetros. Para o trabalho, a equipe utiliza equipamentos de última geração, como scanner a laser de alta resolução, drones e câmeras térmicas. O objetivo é desenvolver um passeio virtual, tanto para telas planas quanto para imersão em 3D (com o uso de óculos específicos), em uma experiência ainda mais realista. 

Em computadores, notebooks, smartphones ou tablets, o trajeto por dentro da gruta é feito a partir de cliques com o mouse, de cliques na própria tela ou de movimentos realizados com os dispositivos. As imagens em 360º vão mudando de acordo com essa movimentação, e o visitante vai traçando seu caminho, parando quando quiser para observar detalhes.

Já no passeio feito para imersão em 3D, com o uso de óculos de realidade virtual, é como se o visitante estivesse imerso dentro da gruta, cercado por imagens, e não apenas observando-as de frente para uma tela. Ele explora o trajeto a partir da movimentação do próprio corpo pelo espaço.

PROJETO DOCUMENTACE – A digitalização da gruta de Ubajara é o 12º espaço a ganhar um tour virtual dentro de um projeto de tecnologia e inovação voltado ao patrimônio cultural do Ceará, uma das frentes que integra o programa Cientista Chefe da Cultura. Iniciado em 2021, o projeto vem digitalizando prédios históricos e equipamentos culturais de Fortaleza e outros municípios, elaborando passeios virtuais para cada um. A lista inclui espaços como Theatro José de Alencar, Cineteatro São Luiz, Biblioteca Pública Estadual do Ceará, Igreja Nossa Senhora dos Prazeres (Caucaia) e Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário (Aracati).

Todos os passeios estão disponíveis na plataforma DocumentaCE. “O objetivo é disponibilizar, de modo acessível, essas visitas ao patrimônio tanto natural quanto edificado do Ceará”, explica o coordenador da iniciativa, professor Esequiel Mesquita, do IAUD. A gruta é o primeiro patrimônio natural a ser contemplado pelo projeto. “Queremos ver se a tecnologia que utilizamos se aplica a esse caso e quais são as limitações existentes”, observa Mesquita.

Imagem: Foto de uma trilha de pedra em meio à vegetação densa, com degraus irregulares cobertos por musgo e plantas. À direita, há grandes pedras e vegetação nativa. No topo da escada, sobre um dos degraus, está montado um equipamento de medição em um tripé. A luz natural entra suavemente pela copa das árvores, iluminando o caminho. A cena transmite a sensação de um ambiente úmido, natural e preservado, possivelmente na entrada de uma gruta ou em uma área de mata fechada.

No processo de digitalização, a equipe utiliza um scanner a laser de alta resolução, que lança cerca de 400.000 pontos por captura. A partir desses pontos, é gerada uma nuvem tridimensional que permite reconstituir a volumetria de um espaço e os aspectos de suas superfícies. Ao juntar esses dados da nuvem com os dados de fotografias em 360º é possível recriar o espaço em uma versão virtual.

“O escaneamento digital é um processo relativamente rápido. Para ter uma ideia, conseguimos digitalizar um quilômetro da gruta em 24 horas de trabalho”, detalha Mesquita. “Trabalhamos por cinco dias, entrando na gruta às oito da manhã e saindo perto das quatro da tarde, para capturar todos os levantamentos. Uma captura, que chamamos de cena, é feita a cada dois metros. Neste trabalho, foram capturadas em torno de 115 cenas”, explica o coordenador.

BANCO DE DADOS – Além do passeio virtual, cujo lançamento está previsto para julho de 2025, o material levantado também renderá um banco de dados tridimensional, com informações de textura, volumetria e dimensões com precisão milimétrica. “Isso, inclusive, atualiza o mapeamento existente da gruta e a forma como ela é estudada. São levantamentos que modernizam o acervo existente sobre esse patrimônio”, observa Mesquita.

Além de trazer informações para o público geral, o banco de dados também poderá ser uma ferramenta útil para profissionais das ciências ambientais, da geologia, da geografia e outras áreas. Da mesma forma, os passeios virtuais já ultrapassaram o interesse turístico e de lazer: “soubemos que eles têm sido utilizados nas escolas públicas para ações de educação, em disciplinas como história, geografia e até literatura”, comenta o professor.

Sob coordenação de Esequiel Mesquita, a equipe do projeto é formada pelos estudantes de pós-graduação Joana Guedes e Renan Paulo Nogueira, com apoio dos guias Nataly Pereira da Silva e Francisco Welio Gomes Evangelista, e dos técnicos do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) Diego Rodrigues e Vinícius Leitão Lima. Além do ICMBio e da Cooperativa dos Guias do Parque de Ubajara, o projeto tem apoio da da Secretaria do Turismo do Ceará (Setur).

Imagem: Foto do interior de uma caverna com formações rochosas iluminadas por luzes âmbar. As paredes e o teto da gruta têm curvas suaves e texturas esculpidas pela ação da água ao longo do tempo. No chão, observa-se um caminho delimitado por cordas, indicando a rota de visitação. A iluminação destaca detalhes das rochas, criando sombras que realçam a beleza natural da formação. O ambiente transmite uma atmosfera misteriosa e silenciosa, típica de cavernas profundas.

Vinculado à Secretaria da Cultura do Ceará (Secult) e financiado pela  Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap), o Programa Cientista Chefe da Cultura mobiliza a inteligência acadêmica para aplicações diretas de teorias, metodologias e ferramentas na gestão pública, sendo a área da cultura um campo fértil para esse trabalho, por sua diversidade e pela alta demanda de produtos, serviços e atividades criativas.

Pesquisador responsável do programa, o reitor da UFC, Custódio Almeida, foi escolhido para o cargo segundo critérios como produção científica, formação e ligação com núcleos de pesquisa de alto nível de instituições cearenses. 

A gruta de Ubajara é um dos mais importantes equipamentos do patrimônio natural e espeleológico do Ceará, bem como uma das cavernas turísticas mais visitadas do Brasil. Seu percurso de visitação conta com aproximadamente três quilômetros, com duração de cerca de 40 minutos, sendo obrigatório a presença de um dos guias credenciados pelo Parque Nacional de Ubajara. No passeio, o visitante conhece mais sobre a formação da gruta, história local e a história e lendas dos povos que habitaram a região, como os Tabajaras.

Fonte: Instituto de Arquitetura e Urbanismo e Design (IAUD) – fone: (85) 3366.7491

Endereço

Av. da Universidade, 2853 - Benfica, Fortaleza - CE, CEP 60020-181 - Ver mapaFone: +55 (85) 3366 7300