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Quinta, 14 Agosto 2025 10:38

Escrito por UFC Informa

A universidade é, entre tantas outras coisas, o lugar onde sonhos se realizam. É assim que Vitória Freitas, de 24 anos, decidiu enquadrar na memória e no coração o ambiente onde passou a maior parte de suas horas nos últimos anos. Formada nessa quarta-feira (13) em Engenharia de Computação no Campus de Sobral da Universidade Federal do Ceará (UFC), ela decidiu compartilhar uma parte de sua história em uma postagem no Instagram, reforçando o poder transformador da educação.

“Quando eu era pequena, lembro de inúmeras vezes que atravessamos os riachos para que eu conseguisse chegar até a escola. Com água batendo na cintura, era tanta lama, lama demais, tudo isso porque meus pais decidiram que eu ia ter um ensino básico de qualidade”, relembrou, na rede social digital. Filha de pai agricultor e mãe faxineira de uma área remota do município de Nova Russas, ela continuou essa via crúcis em busca do ensino superior, quando acordava às 3h40 da madrugada para enfrentar todo esse trajeto até pegar o ônibus de Nova Russas a Sobral, que passava às 5h da manhã.

“Eu tinha que vestir uma roupa para passar pelo rio, molhar, e seguir com a mala na cabeça, porque meu pai passava com a moto. Aí, eu vinha com a roupa molhada até a cidade de Nova Russas, até a casa da minha avó, onde trocava de roupa para conseguir pegar o ônibus para Sobral. Quando chegava, às 8h da manhã, eu já vinha direto para a universidade”, rememora.

Na tarde dessa quarta-feira (13), ao assinar a ata de colação de grau, ela declarava, com lágrimas nos olhos, que se formar em uma universidade pública foi a realização de um sonho que não era só seu, mas de toda sua família. “Meu pai é semianalfabeto, e agora eu estou me formando num curso que ele nem entende o que é. Mas, mesmo sem entenderem, meus pais acreditaram na educação como ferramenta para a mudança de vida”, relata.

Vitória é uma dos 105 novos profissionais formados no Campus da UFC em Sobral em 2025.1. A história da mais nova engenheira foi celebrada na fala da oradora docente da cerimônia, Jermana de Moraes: “E é por isso que eu acredito, com toda convicção, que ninguém deveria precisar vencer tanto para simplesmente ter direito a estudar. Mas vencemos. E aqui estamos”.

A professora apontou ainda as dificuldades e preconceitos que mulheres, como Vitória, enfrentam ao decidir enveredar pelo campo da engenharia, em grande parte ocupado por homens. “Ser mulher é resistir ao que é imposto como norma. É carregar o peso da representatividade enquanto tenta apenas exercer seu direito de aprender, crescer e opinar. É levantar a cabeça quando tentam te fazer caber em espaços menores do que sua capacidade. Mas também é ter coragem para abrir caminho para que outras venham”, reforçou.

As dificuldades enfrentadas na trajetória que leva até o diploma de graduação também foram salientadas pela oradora discente, Bruna Passos, formada em Ciências Econômicas. “Em nome da nossa história comum, destaco, antes do saudosismo e do contentamento com os quais deixamos a UFC, as limitações passadas durante a graduação. Faço isso não porque queira restringir anos maravilhosos de nossas vidas apenas aos momentos difíceis, mas como reconhecimento das dificuldades enquanto parte essencial e indissociável de nossas trajetórias acadêmicas. Atravessá-las, afinal, nos permitiu completar este ciclo”, afirmou.

Bruna disse que não basta que, a partir de agora, ela e os demais formandos sejam profissionais competentes. “Para além disso, precisamos ser cidadãos íntegros, conscientes da realidade de nossos pares, aptos a reivindicar e defender os direitos humanos. Que nosso trabalho transforme mais que apenas nossas vidas. Que seja a nossa luta que amplie o acesso e a qualidade da universidade pública”, completou.

Numa cerimônia de celebração de tantos obstáculos ultrapassados, o reitor Custódio Almeida comemorou a trajetória dos 105 profissionais que ali recebiam o diploma. “Agora, vitoriosos, maiores e melhores do que eram antes, vocês estão aptos a receber um diploma que representa muito mais do que o conhecimento acadêmico: no diploma de vocês está gravado esforço, dedicação, competência técnica, habilidades laborais, oportunidades e capacidade de transformação”.

O reitor reforçou que cada um dos novos profissionais que saíram dessa quarta-feira (13) do Campus de Sobral haviam conquistado mais que um diploma. “Vocês conquistaram a autonomia e liberdade para serem o que vocês quiserem ser. E conquistaram a consciência e os argumentos para combater todas as formas de preconceitos: religiosos, étnico-raciais, sexuais, de gênero. A partir de agora, esses preconceitos que empobrecem a humanidade e torna a nossa sociedade intolerante e violenta são incompatíveis com o grau que vocês conquistaram. E mais, a partir de agora, vocês são convidados a serem guardiões da justiça, da liberdade, da paz e da vida”, conclamou.

SUPERAÇÃO - Aos 27 anos, João Paulo da Silva se formou em Psicologia, tornando-se o primeiro de seis irmãos a conseguir acessar o ensino superior. Contudo, lá em 2019, a alegria de conseguir a vaga tão sonhada em uma universidade pública veio acompanhada de apreensão. Pessoa com deficiência e morador de Quixadá, ele temia os obstáculos de viver sozinho em uma outra cidade, onde não conhecia ninguém.

“Eu não sabia como iria me manter aqui em Sobral, pois minha família sobrevivia dos benefícios do governo, como aposentadoria, Bolsa Família e BPC [Benefício de Prestação Continuada]. Isso era toda a nossa renda”, conta. Entretanto, João Paulo encontrou na assistência estudantil a permissão para seguir no seu sonho. “Logo que entrei, consegui o auxílio moradia. E sempre fui muito bem assistido pela coordenação do curso. Mesmo com limitações de infraestrutura, houve um cuidado muito grande comigo em relação à mobilidade, como quando as aulas que seriam no primeiro andar foram transferidas para o térreo, para que eu não precisasse subir escadas. Esse cuidado foi muito importante pra mim”, relembra.

João Paulo revela que só agora a “ficha está caindo” de que é um profissional formado. E sua família também. “Só agora eles estão percebendo o peso de ter uma pessoa graduada na família. É algo difícil de acreditar pra gente, mas eles sempre me apoiaram em todos os passos”, contou.

A cerimônia de colação de grau em Sobral formou alunos dos cursos de Ciências Econômicas, Engenharia de Computação, Engenharia Elétrica, Finanças, Música e Psicologia.

Fonte: Secretaria de Comunicação e Marketing da UFC - e-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.