Agência UFC: Pesquisa analisa estereótipos em personagens femininas de ebooks mais vendidos no Brasil
- Quarta, 22 Outubro 2025 07:36
- Escrito por UFC Informa
O mercado de livros digitais cresceu mais de 20% em 2024, segundo levantamento divulgado pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) e pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL). Ainda de acordo com as entidades, de 2019 a 2023, o faturamento das editoras com conteúdo digital aumentou 158%. Os números indicam, portanto, que o interesse dos leitores brasileiros por esse formato não para de crescer e, como critérios para a compra de ebooks, os consumidores elencam acessibilidade, conveniência, portabilidade, além do custo por vezes mais baixo do que o livro físico.
Mas se o suporte traz inovações quanto à forma de apreciar uma boa leitura, as narrativas acompanham essa tendência? Uma pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade Federal do Ceará buscou responder a essa pergunta, com enfoque na análise acerca dos estereótipos nas personagens femininas em ebooks. O estudo analisou 15 títulos entre os mais vendidos da plataforma Amazon Brasil, entre os meses de agosto e novembro de 2024, e a conclusão foi a de uma visão paradoxal da mulher, que preconiza atitudes progressistas, mas ancorada em ideais conservadores que norteiam as obras.

Dentre os títulos estudados, quatro são postos em destaque: “A esposa indesejada do príncipe”, de D.A. Lemoyne; “Azar no altar”, de Maria Isabel Mello; “A conquista do Mafioso”, de Ary Nascimento; e “Vincenzo”, de Cecília Turner. As obras compõem a categoria de literatura juvenil/adulta, aproximando-se dos antigos folhetins, romances publicados em jornais e revistas em meados do século 19.
“Esse tipo de literatura faz parte do que chamamos de literatura comercial. Os gêneros têm nomes específicos como ‘romance hot’, ‘dark romance’ e comumente são mulheres que escrevem para um público majoritariamente feminino. Isso implica em como a parcela feminina da sociedade se enxerga e diretamente em sua formação social e cultural”, detalha Priscila Siqueira, autora da tese de doutorado.
Comenta a pesquisadora que, embora as narrativas dos livros analisados retratem ideais de liberdade e empoderamento atrelados às protagonistas, eles coexistem com o perfil de mulher submissa e apaixonada. A felicidade da mulher, portanto, está associada nesses livros ao homem.

“Esse perfil se conecta diretamente com as visões mais tradicionais da mulher, a colocando em papéis ligados ao casamento e à maternidade e, principalmente, atrelando a felicidade ao amor. Dentro desses universos não existe felicidade sem paixão. Para além disso, todas as protagonistas retratadas tinham algum tipo de vulnerabilidade que seria resolvida através do amor, reforçando a visão da mulher enquanto sexo mais frágil que precisa da proteção de um parceiro”, afirma Priscila Siqueira.
Saiba mais sobre a pesquisa no site da Agência UFC, veículo de divulgação científica da Universidade.
Fonte: Priscila Siqueira, doutora em Linguística pela UFC - email: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.







