Pesquisa inovadora da UFC sobre apoio matricial em hanseníase conquista primeiro lugar em edital do Programa Mais Médicos
- Quinta, 30 Outubro 2025 10:01
- Escrito por UFC Informa
Uma pesquisa da Universidade Federal do Ceará (UFC) ganhou destaque nacional e conquistou o primeiro lugar no edital Experiências Exitosas do Programa Mais Médicos, vinculado ao Governo Federal. A iniciativa da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e do Ministério da Saúde (MS) premiou, com nota máxima, o trabalho intitulado “Do saber ao fazer: Apoio Matricial em Hanseníase em Fortaleza, Ceará”, da médica e mestranda em Saúde Pública Juliana Ramos.

“Essa conquista representa o reconhecimento do trabalho que desenvolvemos com dedicação e compromisso com a saúde da população. O Apoio Matricial (AM) é uma estratégia inovadora e promissora que poderá ser replicada em outros locais do País e também em outras áreas da saúde como Saúde da Criança, Saúde do Idoso, Saúde da Mulher e doenças crônicas não transmissíveis, por exemplo”, celebra Juliana Ramos.
A hanseníase é uma doença infecciosa crônica causada pelos bacilos Mycobacterium leprae e Mycobacterium lepromatosis. Essas bactérias acometem, preferencialmente, nervos periféricos e pele. Os sinais e sintomas da hanseníase podem incluir lesões de pele avermelhadas e/ou esbranquiçadas com alteração de sensibilidade, dormência, sensação de choques, fisgadas ou formigamentos em mãos e pés.
Por afetar principalmente populações de baixa renda e receber pouco investimento em assistência, a hanseníase é considerada uma doença negligenciada. A pesquisadora explica que o Brasil é um país com alta endemicidade para a doença, o que requer mais atenção aos sinais e sintomas. “A hanseníase pode causar sequelas irreversíveis, se não diagnosticada em tempo, e com significativas repercussões sociais, econômicas e psicológicas, tanto em termos individuais, quanto coletivos”, destaca.
De olho nessa realidade, Juliana Ramos desenvolveu sua dissertação no Programa de Pós Graduação em Saúde Pública (PPGSP) da UFC, sob orientação do professor Alberto Novaes Ramos Júnior. “Minha pesquisa de mestrado teve como foco descrever a implantação do Apoio Matricial em hanseníase em Fortaleza e demonstrar como essa ferramenta pode fortalecer o cuidado às pessoas acometidas, promovendo uma atenção mais integrada, resolutiva e humanizada na rede de saúde”, ressalta a mestranda.
O estudo trouxe o tema da hanseníase para o campo da Atenção Primária à Saúde (APS), evidenciando o potencial do matriciamento como estratégia de educação permanente, ampliação da clínica e coordenação do cuidado. “Os resultados mostraram que, quando as equipes de atenção primária recebem apoio técnico-pedagógico e compartilhado dos especialistas, os diagnósticos tornam-se mais precoces, os fluxos assistenciais se organizam de maneira mais ágil e o vínculo com o usuário se fortalece”, destaca.
A pesquisa da UFC identificou que o apoio matricial favorece a corresponsabilização entre os profissionais, a integração ensino-serviço e a valorização dos saberes locais, elementos fundamentais para o enfrentamento do estigma e para a qualificação do cuidado às pessoas com hanseníase. “Mais do que resultados quantitativos, a pesquisa revelou um processo de transformação coletiva: profissionais mais confiantes, serviços mais articulados e usuários mais acolhidos. O matriciamento não é apenas uma ferramenta de gestão, mas uma prática de cuidado compartilhado, sustentada pelo diálogo, pela escuta e pelo afeto”, explica.

A experiência está ancorada em dois projetos estratégicos com participação decisiva do PPGSP/UFC por meio de docentes (Alberto Novaes Ramos Jr, Jaqueline Caracas Barbosa, Carmem E. Leitão de Araújo) e discentes/egressos(as) (Nagila Nathaly Lima Ferreira, Aymée Medeiros da Rocha, Rômulo do Nascimento Rocha, Juliana Maria Cavalcante Ribeiro Ramos):
- “Fortalecimento da temática hanseníase na universidade — ampliar e fortalecer o diagnóstico e tratamento da hanseníase no estado do Ceará”, iniciativa induzida e financiada pelo Ministério da Saúde (SVSA), coordenada e executada pela UFC em parceria com as Secretarias Municipais de Saúde de Fortaleza e Sobral, a Secretaria da Saúde do Estado do Ceará (SESA-CE) e a Fundação NHR Brasil.
- Programa PEP++ (quimioprofilaxia aprimorada para contatos de pessoas acometidas por hanseníase), sob coordenação da Netherlands Leprosy Relief (NLR) e execução no Brasil pela Fundação NHR Brasil, em Fortaleza e Sobral, em parceria com a UFC.
SOBRE A PESQUISADORA - Juliana Ramos é médica formada pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA), com residência médica em Dermatologia pelo Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC) da UFC. Além de mestranda do PPGSP, ela é médica de família e comunidade e hansenologista. Atua como preceptora de Saúde Coletiva do curso de Medicina da UFC e da Universidade de Fortaleza (Unifor), além de preceptora da residência de Medicina de Família e Comunidade. "Toda a minha trajetória como estudante aconteceu em instituições públicas, o que desperta em mim um profundo sentimento de gratidão. Considero natural retribuir à sociedade tudo o que recebi ao longo da minha formação”, afirma.
Durante a trajetória profissional, Juliana Ramos atuou em consultórios privados e na rede pública de saúde. “Com o tempo, percebi que meu verdadeiro propósito estava no SUS, especialmente no cuidado às populações mais vulneráveis. Durante minha atuação como médica da Estratégia Saúde da Família (ESF), no bairro Jangurussu, em Fortaleza, identifiquei diversos casos de hanseníase, o que despertou meu interesse pelo tema e aproximou meu trabalho da vigilância epidemiológica municipal”, complementa Juliana.
Mais do que um interesse técnico, Juliana explica que a experiência na rede pública de saúde tem sido um encontro humano. “Passei a me sensibilizar profundamente com as pessoas acometidas pela hanseníase, pessoas que carregam as marcas visíveis e invisíveis de um diagnóstico tardio, e que, mesmo diante da dor e do estigma, seguem firmes, com uma força e uma esperança que nos ensinam todos os dias lições de coragem e esperança”, conclui a mestranda da UFC.
Fonte: Juliana Ramos, mestranda do Programa de Pós Graduação em Saúde Pública da UFC - e-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.





