Pesquisa da UFC utiliza canoas havaianas para monitorar microplásticos no litoral cearense
- Terça, 02 Dezembro 2025 10:09
- Escrito por UFC Informa
Pesquisadores brasileiros e portugueses identificaram os principais fatores ambientais que influenciam a distribuição de microplásticos no litoral do Ceará, utilizando um método de baixo custo e sustentável: a instalação de um coletor acoplado a canoas do tipo Va’a, tradicionalmente usadas em esportes aquáticos.
O trabalho integra a dissertação de mestrado do estudante Alexandre Dantas e foi liderado pelo professor Tommaso Giarrizzo, do Instituto de Ciências do Mar (Labomar) da Universidade Federal do Ceará (UFC).

Na prática, os pesquisadores conseguiram substituir com sucesso as embarcações motorizadas utilizadas nesse tipo de trabalho, reduzindo significativamente a pegada de carbono da própria pesquisa e aproveitando a comunidade esportiva local.
O estudo foi publicado na revista internacional Marine Pollution Bulletin e mostrou que a velocidade do vento é o principal fator que influencia a densidade de microplásticos na superfície da água no Ceará, seguido pelo grau de urbanização da região e pelo volume de chuvas.
O trabalho foi realizado ao longo de 12 meses em dois locais com diferentes níveis de urbanização: o Parque Nacional de Jericoacoara (área protegida, com baixa urbanização) e a praia do Mucuripe, em Fortaleza (altamente urbanizada). No total, foram coletadas 23.159 partículas de microplásticos, com densidade média de 0,47 partículas por metro quadrado – valor superior ao registrado em regiões costeiras da Espanha e do Vietnã.
COMO FOI FEITO - Os pesquisadores adaptaram um coletor de baixo custo com rede de 330 micrômetros, acoplado lateralmente às canoas havaianas do tipo Va’a. Durante os treinos de remadores de clubes locais, o equipamento era rebocado por cerca de 400 metros, filtrando a água superficial. A iniciativa permitiu a coleta de dados sem o uso de embarcações motorizadas, reduzindo custos e emissões de carbono.

“Além de gerar dados científicos relevantes, o projeto envolveu a comunidade esportiva, transformando praticantes de remo em cientistas cidadãos”, explica o professor Tommaso Giarrizzo, um dos coordenadores do estudo.
A pesquisa permitiu identificar que o litoral de Fortaleza apresentou densidade de microplásticos três vezes maior que o de Jericoacoara. Os tipos encontrados mais comuns foram fibras (54,3%) e fragmentos (35,4%), indicando diferentes fontes de microplásticos, como têxteis e decomposição de plásticos maiores. Já os polímeros mais encontrados foram polietileno (36%) e polipropileno (29%), materiais de baixa densidade que flutuam com facilidade.
Por fim, os pesquisadores utilizaram um modelo estatístico (Boosted Regression Trees) que reforçou a influência de fatores hidrodinâmicos e antrópicos na distribuição dos microplásticos.

IMPACTO DO ESTUDO - A pesquisa demonstra que é possível integrar esporte, ciência e educação ambiental de forma eficaz e sustentável. A metodologia pode ser replicada em outras regiões costeiras do mundo, ampliando a capacidade de monitoramento de microplásticos e fortalecendo a conscientização local sobre poluição marinha.
“Essa abordagem participativa permite um monitoramento contínuo e de longo prazo, essencial para entender e combater a poluição por plásticos nos oceanos”, complementa Alexandre Dantas, primeiro autor do artigo, que está disponível online.
Fonte: Tommaso Giarrizzo, professor do Labomar/UFC - e-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.







