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Pesquisa da UFC utiliza canoas havaianas para monitorar microplásticos no litoral cearense

Pesquisadores brasileiros e portugueses identificaram os principais fatores ambientais que influenciam a distribuição de microplásticos no litoral do Ceará, utilizando um método de baixo custo e sustentável: a instalação de um coletor acoplado a canoas do tipo Va’a, tradicionalmente usadas em esportes aquáticos.

O trabalho integra a dissertação de mestrado do estudante Alexandre Dantas e foi liderado pelo professor Tommaso Giarrizzo, do Instituto de Ciências do Mar (Labomar) da Universidade Federal do Ceará (UFC).

Imagem: Os pesquisadores adaptaram um coletor de baixo custo, acoplado lateralmente às canoas havaianas (Foto: Guilherme Silva/UFC)

Na prática, os pesquisadores conseguiram substituir com sucesso as embarcações motorizadas utilizadas nesse tipo de trabalho, reduzindo significativamente a pegada de carbono da própria pesquisa e aproveitando a comunidade esportiva local. 

O estudo foi publicado na revista internacional Marine Pollution Bulletin e mostrou que a velocidade do vento é o principal fator que influencia a densidade de microplásticos na superfície da água no Ceará, seguido pelo grau de urbanização da região e pelo volume de chuvas.

O trabalho foi realizado ao longo de 12 meses em dois locais com diferentes níveis de urbanização: o Parque Nacional de Jericoacoara (área protegida, com baixa urbanização) e a praia do Mucuripe, em Fortaleza (altamente urbanizada). No total, foram coletadas 23.159 partículas de microplásticos, com densidade média de 0,47 partículas por metro quadrado – valor superior ao registrado em regiões costeiras da Espanha e do Vietnã.

COMO FOI FEITO - Os pesquisadores adaptaram um coletor de baixo custo com rede de 330 micrômetros, acoplado lateralmente às canoas havaianas do tipo Va’a. Durante os treinos de remadores de clubes locais, o equipamento era rebocado por cerca de 400 metros, filtrando a água superficial. A iniciativa permitiu a coleta de dados sem o uso de embarcações motorizadas, reduzindo custos e emissões de carbono.

Imagem: Microplásticos filtrados pelo coletor utilizado na pesquisa (Foto: Guilherme Silva/UFC)

“Além de gerar dados científicos relevantes, o projeto envolveu a comunidade esportiva, transformando praticantes de remo em cientistas cidadãos”, explica o professor Tommaso Giarrizzo, um dos coordenadores do estudo.

A pesquisa permitiu identificar que o litoral de Fortaleza apresentou densidade de microplásticos três vezes maior que o de Jericoacoara. Os tipos encontrados mais comuns foram fibras (54,3%) e fragmentos (35,4%), indicando diferentes fontes de microplásticos, como têxteis e decomposição de plásticos maiores. Já os polímeros mais encontrados foram polietileno (36%) e polipropileno (29%), materiais de baixa densidade que flutuam com facilidade.

Por fim, os pesquisadores utilizaram um modelo estatístico (Boosted Regression Trees) que reforçou a influência de fatores hidrodinâmicos e antrópicos na distribuição dos microplásticos.

Imagem: O professor Tommaso Giarrizzo, do Labomar, lidera a pesquisa (Foto: Guilherme Silva/UFC)

IMPACTO DO ESTUDO - A pesquisa demonstra que é possível integrar esporte, ciência e educação ambiental de forma eficaz e sustentável. A metodologia pode ser replicada em outras regiões costeiras do mundo, ampliando a capacidade de monitoramento de microplásticos e fortalecendo a conscientização local sobre poluição marinha.

“Essa abordagem participativa permite um monitoramento contínuo e de longo prazo, essencial para entender e combater a poluição por plásticos nos oceanos”, complementa Alexandre Dantas, primeiro autor do artigo, que está disponível online.

Fonte: Tommaso Giarrizzo, professor do Labomar/UFC - e-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

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