Medalha do Mérito Cultural da UFC é entregue, "in memoriam", a Heloísa Juaçaba
- Terça, 11 Junho 2019 15:54
No final da manhã desta terça-feira (11) o reitor da Universidade Federal do Ceará, Prof. Henry Campos, procedeu à entrega da Medalha do Mérito Cultural da UFC à artista plástica Heloísa Juaçaba (in memoriam). A comenda foi recebida por dois dos filhos da homenageada: o médico e diretor do Instituto do Câncer do Ceará, Sérgio Juaçaba, e Ana Virgínia Juaçaba Ribeiro, responsável por manter a obra e a memória de sua mãe vivas. A solenidade, com momentos de muita emoção, ocorreu no auditório da Reitoria da UFC, ao qual compareceram outros familiares de Dona Heloísa, artistas plásticos, representantes de entidades, amigos e admiradores.
"Estamos aqui para resgatar uma dívida de gratidão e externar nossa admiração por uma personagem relevante na história da UFC", iniciou o reitor Henry Campos. Ele afirmou que a concessão da Medalha do Mérito Cultural da UFC a Dona Heloísa Juaçaba foi proposta ao Conselho Universitário em 2008 pelo então diretor do Museu de Arte da UFC (MAUC), Prof. Pedro Eymar, e pela então diretora da Casa de José de Alencar, Profª Angela Gutiérrez, presidente da Academia Cearense de Letras (ACL). Na época, o reitor foi o relator da propositura e hoje reforça o reconhecimento a Dona Heloísa, por "sua ação pioneira e inconteste para o desenvolvimento cultural do Ceará; reconhecendo, igualmente sua sensibilidade e talentos artísticos, além do vínculo efetivo (e afetivo) com a ação cultural em nossa instituição".
O Prof. Henry Campos relembrou que foi a ela que o fundador da UFC, Prof. Antonio Martins Filho, recorreu quando de sua intenção de criar o Museu de Arte da UFC. "Foi à sua sensibilidade e ao seu conhecimento do meio artístico que a Universidade apelou para que se atraísse a produção mais relevante, inclusive de artistas populares, material que se tornaria a semente de uma das mais representativas coleções de cultura popular do País, com aproximadamente 2.000 peças, dentre as quais se destacam os conjuntos de esculturas em madeira e cerâmica, além de quase 1.600 matrizes e estampas de xilogravuras, esculturas e ex-votos", acentuou.
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O reitor fez um parêntese para prestar homenagem ao esposo de Dona Heloísa, o médico Haroldo Juaçaba, também já falecido, figura da maior importância na Faculdade de Medicina da UFC e incentivador da interiorização do Curso de Medicina, além de fundador do Instituto do Câncer do Ceará. Voltando a se referir a Dona Heloísa como "a grande dama da Arte no Ceará" e "honrando sua memória e legado generosos", o reitor encerrou sua fala, afirmando: "Hoje foi o dia de entronizarmos Dona Heloísa Juaçaba nessa galeria dos grandes nomes sobre os quais se erguem as paredes imortais desta Casa. Hoje é um dia feliz".
GRATIDÃO – A pedido da família, coube ao ex-diretor do MAUC e amigo da homenageada, Prof. Pedro Eymar, fazer o discurso de agradecimento. Com emoção, ele relembrou o dia em que conheceu Dona Heloísa, numa feira de artes no Passeio Público, em 1971. "A feira já terminava quando vi aproximar-se de mim e dos meus quadros uma senhora elegante, altaneira, leve, sólida e curiosa. Um echarpe de seda tremulando ao vento. Parou focando a vista num pastel a óleo meu, apoiado no tronco do baobá". Ele contou que, nesse encontro, Dona Heloísa adquiriu um quadro seu e, generosamente, incentivou o jovem artista: "Muito bonito o seu trabalho. Continue, prossiga".
Ao agradecer a homenagem em nome da família de Heloísa Juaçaba, o Prof. Pedro Eymar lembrou também os frutos do encontro dela com o então reitor Martins Filho. "O universal pelo regional [lema do "reitor dos reitores" para a UFC] também instalado na alma de nossa Heloísa permitiu que ela aqui frutificasse a grandeza escalar do seu afeto pela arte, contribuindo para a produção e a visibilidade das manifestações artísticas e para a criação dos espaços de memória", disse.
Para Pedro Eymar, "os olhos e as mãos mágicas de nossa Heloísa estão, por certo, presentes na criação, nas paredes, nas salas de exposições, nos eventos e nos objetos raros da cultura popular que pulsam no coração do Museu da Universidade. Objetos que, para nossa Heloísa, representavam a mais sublime das manifestações artísticas". Ele destacou a gratidão, em nome da família, "pela realização deste ato de afeto e memória".
Ana Virgínia, filha de Dona Heloísa, não fez discurso, mas em entrevista lembrou que os pais dela sempre deram grande contribuição à Universidade Federal do Ceará na área das artes plásticas e no campo da Medicina. "Eu agradeço extremamente o reconhecimento a eles dois e a ajuda de toda a Universidade Federal. Sempre lutamos para um Ceará maior, melhor, para que todos os artistas e todos os médicos e toda população cearense consigam um lugar ao sol que nós merecemos", declarou.
Sérgio Juaçaba, filho da homenageada, recorda a mãe como "uma pessoa muito especial na vida da gente e, pelas obras, na arte cearense. Foi uma pessoa que se interessou por arte, sempre sem interesse financeiro. Teve ligação enorme com a UFC, com a Casa de Cultura Raimundo Cela, o Museu do Ceará. Ela teve uma participação muito grande e sempre com aquela veia de ajudar as instituições", afirmou. E acrescentou: "A família se sente muito honrada com essa homenagem que iria ser feita inclusive em vida, mas devido a alguns problemas de saúde, ela não pôde comparecer e hoje a família se sente muito honrada com essa homenagem feita pela Universidade Federal do Ceará".
Compuseram a mesa da solenidade, junto com o reitor e os filhos de Dona Heloísa, o ex-diretor do MAUC, Prof. Pedro Eymar; a pró-reitora-adjunta de Graduação, Profª Simone da Silveira Sá Borges; a diretora do MAUC, Graciele Karine; a diretora da Academia Cearense de Letras, Profª Angela Gutiérrez, e o secretário da Cultura de Fortaleza, Gilvan Paiva.
BIOGRAFIA – Nascida em Guaramiranga no dia 1º de abril de 1926, Heloísa Juaçaba estudou desenho e pintura com Floriano Teixeira na Sociedade de Artes Plásticas (SCAP), mas seu interesse pela arte a levou a desenvolver também trabalhos em outras vertentes como desenhista, escultora, tapeceira e gravadora.
Em 1960, a convite do reitor Antônio Martins Filho, Heloísa integrou grupo de artistas que colaborou para tornar realidade o "sonho do museu" idealizado pelo então reitor. Em conjunto com os pintores Zenon Barreto e Antônio Bandeira, além de outros amigos que apoiaram a iniciativa, ela reuniu gradativamente material artístico para que, em 1961, pudesse acontecer a inauguração oficial do MAUC.
Heloísa Juaçaba desempenhou também atividades no âmbito da administração da cultura no Estado do Ceará. Foi diretora do Departamento Municipal de Cultura da Prefeitura de Fortaleza; integrante do Conselho Estadual de Cultura; diretora do Centro de Artes Visuais Casa de Raimundo Cela e organizadora das pinacotecas do Palácio da Abolição, sede do Governo do Estado do Ceará, e do Paço Municipal de Fortaleza.
Fonte: Coordenadoria de Comunicação Social e Marketing Institucional da UFC – fone: (85) 3366 7331