"Amor correspondido": Angela Gutiérrez é a mais nova Professora Emérita da UFC
- Segunda, 12 Agosto 2019 10:17
"Guardarei esse título como uma aliança, símbolo de meu amor por esta Casa e da confirmação de que esse amor é correspondido", declarou Angela Gutiérrez, docente aposentada do Departamento de Literatura, ao receber a mais importante comenda institucional da Universidade Federal do Ceará: o título de Professora Emérita. A cerimônia, realizada na noite de sexta-feira (9), no Auditório Antônio Martins Filho (na Reitoria), reuniu autoridades, amigos e familiares da homenageada.
A Profª Odalice de Castro, do Departamento de Literatura, escolhida para saudar a nova Professora Emérita, destacou sua importância para o Departamento de Literatura da UFC, onde "por várias décadas abriu a frente da pesquisa" como docente e coordenadora-fundadora do Programa de Pós-Graduação em Letras, definindo-a como um "exemplo vivo de total entrega aos campos do saber".
Mais imagens da solenidade estão disponíveis no Flickr da UFC
O reitor Henry de Holanda Campos reconheceu as contribuições de Angela Gutiérrez para a Universidade, como docente e gestora, na fundação do Instituto de Cultura e Arte (ICA), na reabertura das salas de exposição de Raimundo Cela e de Antônio Bandeira, que estiveram fechadas por mais de 20 anos, e a criação do espaço dedicado a Descartes Gadelha no Museu de Arte da UFC (MAUC), além do empenho na restauração da Casa de José de Alencar.
"A estirpe de intelectuais que lhe serviu de berço deve ter tatuado, em Angela Gutiérrez, a marca da inteligência, da lucidez, do engenho e arte, e também do caráter", presumiu o reitor ao congratulá-la ainda pela "magnitude de sua produção intelectual" e pela trajetória de vida e feitos na sociedade.
Além da Profª Odalice de Castro e do reitor Henry Campos, compuseram a mesa de cerimônia René Barreira, ex-reitor da UFC; Daniele Nilin, vice-diretora do Centro de Humanidades; Lúcio Alcântara, ex-governador do Estado do Ceará; Francisco Coraci Camelo Ponte, coronel e assessor de Comunicação da Casa Militar do Ceará; e do ex-ministro do TCU Ubiratan Aguiar.
RESILIÊNCIA – "Angela experimentou a bênção da maternidade quando dava seus primeiros passos nas lides docentes. Cedo aprendeu a dividir-se entre o lar, os filhos e as obrigações profissionais", comentou o reitor sobre o fato de Angela ter se candidatado ao curso de mestrado quando estava grávida de sua filha, Angela Laís. "Desdobrou-se, incansável, enquanto investia em seu crescimento intelectual, tão determinante para o bom desempenho do magistério."
Ao relatar a própria trajetória, a docente relembrou o início da carreira na Universidade como professora horista, sem vínculo de emprego ou esperança de concurso público, assim como as dificuldades em compartilhar o saber nos tempos de "censura intelectual", destacando que, apesar das dificuldades "em todos os anos em que esteve na UFC, jamais encontrou má vontade, só achou desejo de ajudar, de fazer acontecer".
APRENDIZ – Para além da UFC, Angela Gutiérrez é a primeira mulher a presidir a Academia Cearense de Letras, instituição da qual faz parte desde 1997. Ela também integra o Instituto Histórico do Ceará. Entre os prêmios e comendas estão o Diploma de Mérito Cultural da Academia Cearense de Letras (ACL) e o Troféu Sereia de Ouro 2016, concedido pelo Sistema Verdes Mares.
Como escritora, tem diversas obras, entre as quais Vargas Llosa e o romance possível da América Latina (Fortaleza: Edições UFC; Rio de Janeiro: Sette Letras, 1996); O mundo de Flora (Prêmio Estado do Ceará), romance indicado para o vestibular da UFC, em 2007; Luzes de Paris e o fogo de Canudos, outro romance; Os sinos de Encarnação, coletânea de contos (Prêmio Osmundo Pontes) – publicadas pelas Edições UFC.
Organizou ainda, em colaboração com Sânzio de Azevedo, a obra Iracema, lenda do Ceará 140 anos (edição ilustrada, bilíngue, português-francês, com ensaios sobre a obra Iracema, comemorativa dos 140 anos de publicação do romance de José Alencar) e Bandeira: verso e traço, com Estrigas, entre outras.
No entanto, apesar do vasto currículo e do histórico de serviços relevantes prestados à UFC, em resumo de sua trajetória, a escritora, poeta, romancista e pesquisadora citou Gonzaguinha ao definir-se como uma "eterna aprendiz". Para ela, "mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende", parafraseando Guimarães Rosa. "Acredito que neste percurso muito mais aprendi do que ensinei."
CORAGEM – "Neste momento turbulento e angustiante que nosso País atravessa, que nos ameaça com a volta ao obscurantismo, não nos podemos perder na desesperança, ao contrário, a Universidade é o lócus por excelência da percepção crítica do passado à construção lúcida e corajosa do futuro", afirmou a professora sobre a importância de manter a coragem em tempos difíceis.
Na ocasião, o reitor aproveitou sua fala para reafirmar a importância da Universidade para a sociedade e destacou as notáveis contribuições da UFC para a ciência e tecnologia, além das relevantes posições que têm sido alcançadas pela Instituição em importantes rankings de qualidade.
Segundo ele, apesar dos deméritos que buscam "o fim da democratização do ensino superior", a UFC resiste, pois "ao longo dos séculos, a universidade sempre se revelou uma instituição sólida, capaz de sobreviver aos mandos e desmandos, à sucessão de governos e desgovernos, às revoluções, às crises, às ditaduras".
"Nossos muros são protegidos contra o obscurantismo porque nosso compromisso é com o saber, a liberdade de pensamento, a democracia, a construção da dignidade humana e da cidadania. Estes, para nós, são princípios inalienáveis", concluiu.
Fonte: Coordenadoria de Comunicação Social e Marketing Institucional da UFC – fone: (85) 3366 7331