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Pesquisadores da UFC e do IFCE e entidades sociais desenvolvem pia portátil para pessoas em situação de rua

Imagem: Nomeado Mó Limpeza, o dispositivo se constitui a partir de dois recipientes plásticos montados em uma estrutura de metalon (Foto: Luiza Jovino e Priscilla Ramos) Lavar as mãos com água e sabão, uma recomendação simples e fundamental para prevenir-se contra o novo coronavírus, pode ser algo trivial no senso comum. Para a população em situação de rua, no entanto, essa ação pode se tornar um grande desafio. Em contexto de extrema vulnerabilidade social, com dificuldade para práticas de higiene pessoal e insegurança alimentar, esse grupo está constantemente exposto ao risco de contágio da COVID-19.

Pensando em mitigar esse quadro, pesquisadores da Universidade Federal do Ceará e do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), em parceria com integrantes de organizações sociais como o Coletivo ArRUaça e o Instituto Compartilha, desenvolveram uma pia portátil para ser usada por essas pessoas na higiene das mãos. 

Nomeado Mó Limpeza, o dispositivo se constitui a partir de dois recipientes plásticos montados em uma estrutura de metalon – espécie de tubo de aço-carbono comum com costura – de 85 centímetros de altura por 75 centímetros de largura.

Independente de sistemas de água e esgoto, a pia possui um mecanismo de acionamento de água e sabão feito através de pedais. Com capacidade de armazenamento de 200 litros, os recipientes são abastecidos com um sistema de bomba artesanal e uma mangueira. O custo geral para a montagem da pia é de cerca de R$ 500,00.

"A tecnologia é muito simples; os principais destaques são a leveza da estrutura, o que facilita o transporte, e a facilidade de poder acionar água e sabão através de pedais para evitar a contaminação pelo toque. Além disso, traz dignidade e promove a equidade, levando o direito básico de lavar as mãos para essa parcela da população que já tem tantos direitos suprimidos", comenta a Profª Verônica Castelo Branco, uma das desenvolvedoras do projeto.

Imagem: Os três primeiros protótipos em funcionamento já beneficiam cerca de 400 pessoas diariamente (Fotos: Luiza Jovino e Priscilla Ramos) Até agora foram instaladas três pias na Capital: uma na calçada da sede de uma instituição religiosa que realiza doação de sopas para pessoas em situação de rua, localizada na rua Assunção, no Centro, e outra na frente do Liceu do Ceará, no bairro Jacarecanga.

A terceira pia foi montada em frente a uma loja de materiais de construção localizada na rua Tristão Gonçalves, no Centro, local que também recebe um grande número de pessoas em vulnerabilidade.

"As pias estão sendo idealizadas para, do ponto de vista de produto, poder ser usadas em vários ambientes, além de atender a população em situação de rua em diversos locais da cidade", explica. Versátil, a invenção poderá ser adotada como estratégia de higiene até mesmo depois da pandemia. "No futuro, [as pias] podem ser utilizadas em estacionamentos, bancos, pontos de ônibus, campi de universidades e até em festas públicas", projeta Verônica.

Segundo estimativas do Coletivo ArRUaça, os três primeiros protótipos em funcionamento já beneficiam cerca de 400 pessoas diariamente. A opinião do público-alvo do projeto também está sendo coletada, a fim de servir como base para aperfeiçoamento do dispositivo. "A receptividade tem sido excelente. Os usuários contribuem com opiniões sobre a vazão de água, a facilidade de usar os pedais, entre outras coisas. De forma geral, sentem-se felizes por ter acesso a esse direito básico", revela a pesquisadora.

Imagem: O projeto é resultado da cooperação entre áreas de saber e instituições (Foto: Luiza Jovino e Priscilla Ramos)PARCERIAS – A cooperação entre áreas de saber e instituições marca o projeto das pias Mó Limpeza. A Profª Verônica Castelo Branco, do Departamento de Engenharia de Transportes da UFC, e o Prof. Pedro Medeiros, do Curso de Engenharia Sanitária e Ambiental do IFCE, atuaram na verificação dos conceitos de engenharia hidráulica da pia.

Já as docentes Camila Barros e Mariana Xavier, do Curso de Design da UFC, realizaram a identidade visual e o assessoramento de marketing do projeto e o desenvolvimento do produto, respectivamente.

Sobre o impacto do projeto para a formação dos alunos de Design, comenta a Profª Camila Barros, coordenadora do Ponto, escritório-modelo do Curso de Design da UFC: "É de grande aprendizado não só do ponto de vista do desenvolvimento de projetos mas também da perspectiva pessoal e política. Quando a gente fala em design, sempre pensa com um olhar voltado para o outro, então é muito importante os estudantes irem para esse lugar que não é o deles, o que faz com que fiquem muito mais sensíveis diante do fazer projetual, objetiva e subjetivamente".

Atuaram no projeto os estudantes da UFC Daniel Tardin, da Engenharia Civil, Beatriz Arraes e Mateus Brasileiro, do Design, e Ataslina de Paula, pós-graduanda em Engenharia de Transportes, além de André Foca, integrante do Coletivo ArRUaça.

Surgido a partir de um projeto de extensão da Faculdade de Educação da UFC, o Coletivo ArRUaça é uma organização da sociedade civil que promove ações de emancipação para as pessoas em situação de rua através da arte, educação e cultura. Coordenado pelo arte-educador André Foca, que também faz parte do Instituto Compartilha, o coletivo tem atuado na doação de alimentos e no atendimento ambulatorial da população em situação de rua, numa parceria com a Rede Nacional de Médicos e Médicas Populares.

"As parcerias são muito importantes, pois como sociedade temos que aprender a trabalhar em rede e a desenvolver processos e projetos intersetoriais, fazendo um trabalho que consiga dialogar e atender melhor a população. Então as pias surgem disso, nesse processo de oferecer acesso e dignidade para uma população mais vulnerável", destaca André Foca.

Atualmente o projeto conta com doações. Interessados em colaborar podem acessar as redes sociais do Coletivo ArRUaça (@arruacacoletivo) ou entrar em contato pelo e-mail Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..

Fonte: Profª Verônica Castelo Branco, do Departamento de Engenharia de Transportes – e-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

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